terça-feira, 10 de janeiro de 2012

CRIAR O FUTURO

Creio que nada é mais apropriado do que falarmos sobre o futuro das empresas, principalmente porque ainda estamos no início da segunda década do século 21 e os executivos conscientes sentem a sensação de que os modelos de "management" estão no limiar da exaustão (senão inteiramente exauridos), além do que a própria compreensão do verdadeiro significado da vida do ser humano leva todos a buscar transformações nas relações capital x trabalho, lucro x participação, business-to-business, responsabilidade social, interesses individuais x coletivos, vida comunitária, meio ambiente, etc.

Muitos gestores de empresas defendem a criação de cenários como forma de construção do futuro nas empresas. A formulação de cenários, já há algum tempo, é parte presente nos planejamentos estratégicos das empresas e sinto que, de fato, o grande desafio na construção do futuro não será através da formulação de cenários, mas da efetiva construção de algo absolutamente novo, inusitado, substancialmente diferente daquilo que hoje faz parte do ambiente empresarial, fugindo da lógica, talvez do racional e, quem sabe, inventando uma nova realidade.

Certa vez, numa reunião de executivos de empresas sobre "Criação de contextos" foi feita alusão à física quântica e, refletindo à respeito – e como não sou e nunca fui um estudioso da física ou física quântica - gostaria de compartilhar com vocês, um conjunto de idéias e pensamentos extremamente instigantes e, para ajudar nessa empreitada, recorri ao brilhante Consultor e Físico Clemente Nóbrega, em seu livro "Em Busca da Empresa Quântica", (escrito há vários anos, porém super atualizado, em minha opinião).

Nóbrega, como um Físico e Engenheiro Nuclear que se tornou executivo de Marketing e depois Consultor, assim se referiu à física quântica: "A Física Quântica acabou de vez com o que restava de senso comum em ciência. Suas conseqüências foram muito mais perturbadoras que tudo o que Einstein tinha feito. O centro do problema é exatamente este: a interpretação da Física Quântica!”

Apesar da Física Quântica ter representado uma grande novidade em termos de conceitos, ainda era possível manter uma certa tranqüilidade em relação ao fundamento das coisas, isto é: o Universo continuava a ser visto como sempre fora desde Newton: um mecanismo cujo "software" controlador estava programado do início até o fim dos tempos; é claro que esse mundo que os físicos buscavam entender tinha uma realidade objetiva.

Pedras, planetas, mesas e cadeiras existem independentemente do fato de nós estarmos observando, certo? Vire as costas para eles e eles ainda estarão lá, certo? A realidade, qualquer que seja o nível,  é assim, certo?

- Errado sob o prisma da física quântica!

No mundo quântico não se podem manter premissas baseadas no senso comum. Bruce Gregory escreveu em "Inventing Reality":

“Parece perfeitamente razoável, por exemplo, dizer que quando uma árvore tomba na floresta ela faz barulho, mesmo que não haja ninguém por perto para ouvi-la. A Física Quântica não dá respaldo à noções desse tipo. O mundo, pelo menos na escala atômica, não parece ser de uma certa maneira particular quer haja alguém observando ou não.

Pode parecer esotérico, porém não é, pois a Física Quântica permite calcular tudo o que interessa ser calculado a respeito do mundo para o qual ela foi desenvolvida: o mundo do infinitamente pequeno. O mundo do átomo e de suas diminutas partículas constituintes. O problema está na hora de interpretá-la!"

De fato, os eventos quânticos não apresentam causas definidas. Assim é – os estudos e experiências confirmam -  que, dentro do átomo, elétrons saltam de um lado para o outro ao acaso. Ninguém têm condições de saber quando isso vai acontecer. Na essência, o que a Física Quântica diz é que o elétron salta quando quiser. Quem cria a realidade é o observador!

De que forma será possível criar uma nova realidade nas empresas mantendo sistemas, formas e métodos operacionais ou de controle tradicionais, tais como hierarquia, planejamento estratégico, controle orçamentário, etc?

Será que a essência de uma transformação profunda não estaria num componente ideológico? E as pessoas? Afinal de contas, as pessoas têm a necessidade de pertencer ou fazer parte de algo da qual tenham ou sintam orgulho!

Concretamente, como já disseram Collins e Porras: "As pessoas ainda terão uma necessidade fundamental de valores e de um senso de propósito que dê às suas vidas e ao seu trabalho uma noção de significado".

Até que ponto as empresas atuais conseguem fazer com que seus funcionários, colaboradores ou talentos humanos tenham ou sintam orgulho delas? Será que o orgulho se mantém nas situações adversas? Qual o verdadeiro significado que o trabalho fornece para a vida de cada um? Meio de subsistência? Fuga? Realização? Alienação? Quantas diferentes respostas podem ser encontradas?

Por esse caminho entramos num amplo e complexo questionamento: Como mudar os intrincados contextos elaborados e enraizados das estruturas empresariais? Certamente não tenho uma resposta objetiva, mas parece-me que no momento em que conseguirmos dar "significado" ou "sentido" para todas as coisas.  Aqui, não devemos nos referir apenas ao sentido financeiro dos investimentos.

Possivelmente, iniciaremos um processo de produção de resultados e ações mais claras que atendem os objetivos tanto do negócio quanto das pessoas. Afinal, o processo deverá integrar as pessoas e estas deverão estar sintonizadas com o rumo que estarão dando às empresas.

Em outras palavras: As empresas serão as pessoas em processo! Serão duas entidades que se confundirão em si mesmas, não fazendo mais o menor sentido quando olhadas sob óticas convencionais.

A nova lógica empresarial provavelmente terá como premissa a participação de todos, onde cada um jamais sentir-se-á passivo. Cada um dos talentos humanos saberá perfeitamente seu papel dentro do contexto estabelecido e todos estarão essencialmente engajados na busca do objetivo comum.

Como diz Nóbrega: "Uma empresa inteligente. Uma empresa em que todos queiram a mesma coisa, sem imposição, sem controle, sem medo e sem que ninguém tenha de comandar." Tomando seu exemplo: imagine um enorme avião onde centenas de passageiros são responsáveis pela pilotagem da aeronave! Essa é a proposta: aprender a pilotagem coletiva de uma empresa.

Talvez vocês possam questionar-me: E os líderes? Onde ficam nessa história?

 - Continuarão existindo e sempre precisaremos de líderes. Porém, parece-nos que não fará mais sentido os líderes absolutos. Cada vez mais, o papel do mesmo far-se-á presente através de seu comportamento, autenticidade e habilidade para estabelecer os papéis dos "atores ou passageiros" que guiarão as empresas do futuro.

Esse líder saberá, cada vez mais, que os verdadeiros relacionamentos serão construídos na medida em que todos tenham a compreensão exata de que jamais terão todas as respostas e como conseqüência, incentivará todos ao auto-conhecimento e ao restabelecimento de uma nova ordem na convivência das pessoas.Todos temos a sensação de que o mundo precisa ser mudado. Todavia, parece-me que a grande sacada é que depois que conseguirmos mudar o mundo em que vivemos, será preciso transformar esse mundo transformado. O essencial não mais estará presente dentro da lógica que aprendemos e que fomos educados!

Tudo isso fará sentido quando o ser humano tiver a conscientização plena de que sua passagem aqui na terra só terá "significado" quando buscar decididamente a felicidade do outro.  Esse é o segredo! Tão simples, mas ao mesmo tempo, tão complexo e difícil para nós, pobres mortais!

Que pena se isto for apenas um ensaio para reflexão!


Autor: Carlos Alberto Zaffani - Consultor em Gestão de Empresas