Diante dessa realidade, achei prudente trazer
para este espaço, uma abordagem serena e sucinta sobre alguns pontos que julgo
relevantes para o presente e futuro de organizações com tais problemas.
1.
Características
comuns observadas em empresas familiares de sucesso
Muitos aspectos interferem no sucesso ou fracasso
de qualquer empreendimento e, em relação às organizações familiares, a situação
não é diferente. Entretanto, podemos observar que algumas características
comuns estão presentes na maioria das empresas que atravessaram mais de uma
geração e continuam vitoriosas:
·
Prevalência do amor e respeito mútuo entre todos
o familiares. É comum observar desejos pessoais sendo sacrificados em benefício
de outros integrantes da família.
·
A dedicação espontânea e, com isso, ocorre a
maximização do potencial individual de cada membro envolvido na gestão.
·
Existe uma compreensão de que a integridade e a
família são mais importantes que os bens e o dinheiro.
·
Desenvolve-se um desejo sincero – entre quase
todos os membros – de se criar uma história e legado de valores para serem
transmitidos para as futuras gerações.
2. O grande
desafio
Geralmente, a maioria das empresas familiares
nasceu da visão, empreendedorismo, determinação e obstinação de homens e
mulheres que acreditaram e se empenharam na concretização de seus sonhos ou
projetos de vida.
Quando a segunda geração começa a participar do
negócio é que costumam surgir os primeiros problemas e aí ressalta o grande
desafio das empresas familiares: a conciliação dos interesses relacionados com:
·
Propriedade;
·
Família;
e
·
Gestão.
Diferentes sentimentos, visões, posturas,
condutas e ambições, entre outros, contribuem para o nascimento de divergências
e conflitos que muitas vezes conduzem negócios prósperos ao fracasso e/ou à
provável degradação das relações familiares, culminando até com a própria
destruição de vínculos, outrora, fortemente construídos.
O que se pode fazer então para evitar que tudo
isso venha ocorrer?
Entendo que é preciso focar em três pontos-chave:
as FRAQUEZAS que devem ser evitadas; os PONTOS FORTES que precisam estar
constantemente monitorados e a possível constituição de um CONSELHO
(administração ou deliberativo).
3.
Fraquezas a serem evitadas
- Falta de disciplina no uso ou aplicação dos
recursos, especialmente os financeiros (Caixa e Bancos) e os obtidos
através dos resultados (Lucro).
- Conflitos de interesses, principalmente quando se
“misturam” questões, assuntos e compromissos pessoais com os da
organização.
- Contratação, aproveitamento, privilégio e/ou
promoção de parente com base na relação familiar e não na competência
profissional.
- Imobilidade da área de Vendas / Marketing, o que
acarreta à empresa, a perda de oportunidades com novos produtos e
mercados.
- Inexistência ou insuficiência de controles internos e gerenciais, especialmente no que se refere ao planejamento, apuração de resultados e elaboração de orçamentos.
4. Pontos fortes que impõem monitoramento contínuo
- Sacrifício
pessoal – Muitas vezes os sócios são tentados a sacar todos os lucros
gerados, porém deve prevalecer o bom senso, postergando tais retiradas ou
estabelecendo dividendos mínimos e reinvestindo o máximo possível no
empreendimento.
- Reputação valiosa - Procurar construir e manter com a comunidade, bairro ou cidade, uma reputação baseada no respeito, na ética e na responsabilidade social.
- Lealdade aos funcionários - Dispor de canais de comunicação abertos e eficazes, nos quais a franqueza e o comprometimento estejam sempre presentes.
- Respeito e união - Entre os dirigentes (diretores / gerentes) e os investidores (acionistas / cotistas), objetivando uma comunicação eficiente e facilitando a tomada de decisões.
- Sensibilidade
social - Criadas as raízes com a comunidade,
bairro ou cidade, é preciso mantê-las e, adicionalmente, ter a
sensibilidade para um maior envolvimento e comprometimento social e
político.
- Continuidade - Manter o empreendimento próspero para as futuras gerações impõe obstinação, determinação e muito trabalho.
5. Criação de um Conselho de
Administração ou Deliberativo
Tenho observado que tem se
tornado cada vez mais comum, as empresas familiares constituírem um “Conselho
de Administração ou Deliberativo”, formado por um ou mais membros da família e
contando também com a participação de um ou mais profissionais - de fora da
organização – competentes, os quais, além da contribuição baseada em suas
experiências, servirão como uma espécie de “visão externa” para fortalecimento
daquilo de denominamos de “Governança Corporativa”.
Principalmente nas empresas de
menor porte e pouco profissionalizadas, é comum os sócios sentirem-se pouco
confortáveis em manter um ou mais profissionais no Conselho, pois sentem-se
enfraquecidos ou “menos donos do negócio”. Por isso, é essencial que esses
“agentes externos” sejam, preferencialmente, profissionais seniores,
experientes na gestão de empresas, com ótima visão econômico-financeira e
contábil, tenham boa capacidade de comunicação e interação com as pessoas e,
principalmente, tenham credibilidade e respeito profissional.
Para que o Conselho possa
desenvolver seu papel com eficiência e eficácia, é primordial que a empresa
disponha de um sistema de informação (operacional e gerencial) suficientemente
capaz para viabilizar análises consistentes dos resultados e das mais
importantes questões operacionais, bem como para auxiliar nas tomadas de
decisões e direcionamentos estratégicos. Além do mais, os sócios (especialmente
aqueles que não participam da gestão ou do Conselho) precisam estar convencidos
de que estão recebendo todas as informações relevantes para acompanhamento de
como vão seus investimentos na empresa.
O Conselho deve reunir-se uma vez
por mês para analisar os resultados e, extraordinariamente, para direcionar
e/ou tomar decisões que envolvam temas relevantes, tais como: aprovação de
planos de expansão, aquisição de novos equipamentos, fechamento de uma fábrica,
aumento de capital, etc.
Finalmente, duas premissas são
fundamentais em relação à postura do Conselho:
- Confiança nas pessoas designadas para a gestão; e
- Apoio e respaldo ao executivo-chefe e demais diretores, sejam eles investidores ou não.
Convido todos os familiares
(sócios ou acionistas) de empresas familiares a refletirem sobre os pontos
abordados sem jamais se esquecerem de que o precursor de qualquer
empreendimento sonha em poder deixar sua marca, suas realizações, sua lembrança
e, principalmente, uma obra que mantenha unida toda a família. Nenhum negócio,
bem ou dinheiro no mundo fará sentido para um verdadeiro empreendedor se um
desses fatores vier a destruir o elo de união de sua família.
E você, caro leitor, o que acha
disso tudo?