Quanto mais amadurecido na vida e profissionalmente, mais surpreendo-me com o instigante e desafiador “mundo” da gestão empresarial.
Algumas semanas após ter escrito o artigo "Lider: um ser cada vez mais raro!", passei por uma daquelas grandes livrarias e resolvi comprar o livro que - na época - estava há mais de trezentos dias entre os dez mais vendidos, já na sua 12ª edição: “O Monge e o Executivo – Uma história sobre a essência da liderança”, de James C. Hunter.
De leitura fácil e agradável, rapidamente devorei as 139 páginas de seu conteúdo. A cada página virada, mais reforçada ficava minha sensação de que o artigo que escrevera há tão pouco tempo estava incompleto, muito embora tivesse a firme convicção da qualidade da mensagem nele contida, uma vez que abordei o tema com objetividade e destaquei vários aspectos e características observadas nos melhores líderes empresariais e que têm sido estudadas pelos especialistas e escolas de administração.
Como enfatizara no texto, as recomendações não garantiria à ninguém a certeza de se tornar um grande lider, porém, ajudaria a pessoa no comando, a ser mais respeitada e com melhores perspectivas para obtenção de resultados superiores. Mas isso era (ou é) suficiente?
Se, por um lado, aquela sensação de uma mensagem incompleta me incomodou, de outro me incentivou a retornar ao assunto, pois para alguém que sempre acreditou na essência e valor do ser humano, senti-me na obrigação de apresentar outras abordagens sobre o verdadeiro LIDER – que eu considero acima de qualquer suspeita :
- sem a objetividade e pragmatismo do artigo anterior, mas com tons de sabedoria suficientes para conduzir o leitor à reflexões;
- sem qualquer enfoque religioso, mas tomando emprestado alguns ensinamentos bíblicos; e
- com “pinceladas” que podem transparecer um certo romantismo, sem no entanto beirar a pieguice.
Assim sendo, tendo como base o livro citado, nas próximas linhas quero compartilhar com vocês, um pouco desse LIDER - estritamente no âmbito das empresas - e mostrar que é possível sim construir e exercer uma liderança vitoriosa, mesmo que para muitos esse modelo seja irreal e incabível diante das exigências atuais dentro das organizações.
Um dos precursores da Sociologia (Max Weber), há muitos anos já apresentara as profundas diferenças entre “Poder” e “Autoridade”.
Sintetizando essas diferenças no âmbito das empresas, podemos afirmar que:
- o Poder se manifesta quando alguém força ou coage uma pessoa ou grupo a fazer algo que deseja em razão de seu cargo ou posição que ocupa na estrutura da organização; e
- a Autoridade surge pela habilidade de conduzir uma pessoa ou grupo a fazer - de boa vontade – o que se deseja, simplesmente em razão da capacidade e influência pessoal.
Tenho a convicção de que você concorda comigo na seguinte afirmação: a grande maioria dos Executivos, Gerentes, Supervisores ou Chefes exercem suas lideranças baseadas exclusivamente no Poder ! Essa é, infelizmente, uma das principais causas da insatisfação das pessoas dentro de nossas organizações.
Baseada na escala de poder, foi sendo construída ao longo dos anos a hierarquia organizacional tradicional: presidente, diretores, gerentes, supervisores / chefias e demais funcionários, sem qualquer preocupação em relação as habilidades para o exercício da autoridade.
Se tomarmos como exemplo um dos maiores líderes da história da humanidade: Jesus, constataremos que ele construiu sua liderança - com autoridade - baseada em dois princípios: o Amor e o Servir.
Mas o que o Amor, como sentimento, magnânimo em sua plenitude nas relações humanas pode contribuir nesse mundo capitalista e competitivo dentro das empresas ?
- É exatamente aqui que descobrimos um sábio ensinamento do significado do amor na palavra grega “AGAPE”, que pode ser traduzida como a manifestação do amor incondicional, baseado no comportamento com as outras pessoas, sem exigir absolutamente nada em troca. Assim por maiores que possam ser as diferenças ou divergências que um Lider tem em relação às pessoas de sua equipe, é através de seu comportamento que ele conseguirá conquistar o respeito e admiração de todos, exercendo então a liderança com autoridade.
Que formas de comportamentos estamos nos referindo :
· Sendo paciente em todas as circunstâncias, mantendo um auto-controle que inspire a serenidade mesmo nas situações mais tensas e difíceis.
· Sendo bondoso, dispensando atenção e apreço por todas as pessoas, independente do cargo ou posição hierárquica e incentivando-as ao desenvolvimento profissional e crescimento pessoal.
· Exteriorizando uma humildade verdadeira, com autenticidade em todas as circunstâncias...sem orgulho...sem arrogância.
· Respeitando todas as pessoas (do menor ao maior nível hierárquico), tratando-as com dignidade, educação e fazendo-as sentirem-se importantes.
· Sendo generoso, buscando, com real interesse, conhecer e satisfazer as necessidades de seus comandados.
· Incentivando, desenvolvendo e praticando verdadeiramente o perdão, não permitindo nenhuma forma de ressentimento, mesmo nas situações mais adversas no dia-a-dia da empresa.
· Sendo absolutamente honesto em suas palavras e atitudes, não simulando “situações” ou “enganos” intencionais com propósitos escusos.
· Mantendo o compromisso de lutar por uma causa, com um grau de comprometimento absoluto e dedicado ao crescimento de seus liderados.
Com tais práticas comportamentais por parte do Lider, seguramente construir-se-á junto aos comandados, um alto grau de percepção baseada no SERVIR. Assim, o ato de liderar passa a representar um verdadeiro serviço ao próximo. Entretanto, o ato de servir depende da intenção com a ação, transformando tal conjunção na vontade de servir, tornando possível a estruturação do seguinte modelo de liderança:
L I D E R A N Ç A
AUTORIDADE / INFLUÊNCIA
SERVIÇO
AMOR (AGAPE)
VONTADE
Tudo isso pode parecer impossível em nossos dias, porém é preciso acreditar e tornar possível tal modelo, lembrando que quando falamos do “amor ao próximo” não estamos nos referindo ao “sentimento”, pois como tal é (ou pode ser) passageiro e fugaz, enquanto que baseado no comportamento, ele se edifica no compromisso / comprometimento e assim se sustentando perenemente.
Essencialmente, a maioria dos problemas dentro de nossas organizações não está (sob a ótica tradicional) na base da pirâmide, mas geralmente no topo dela. Isso decorre dos valores construídos em bases distorcidas e equivocadas, mas que são suficientemente fortes e capazes para deteriorar e até destruir relações humanas saudáveis.
Vivemos hoje um momento singular na história da humanidade, a qual nos apresenta uma grande oportunidade de transformação para nossas organizações. Nossas lideranças estão “em xeque”! A oportunidade está nas escolhas que cada lider tem que fazer: continuar liderando com base no poder ou desenvolver as habilidades naturais que possam conduzi-lo a conquista do respeito com autoridade.
Vivemos hoje um momento singular na história da humanidade, a qual nos apresenta uma grande oportunidade de transformação para nossas organizações. Nossas lideranças estão “em xeque”! A oportunidade está nas escolhas que cada lider tem que fazer: continuar liderando com base no poder ou desenvolver as habilidades naturais que possam conduzi-lo a conquista do respeito com autoridade.
Para desenvolver a capacidade do amor (agape) baseado no comportamento, é preciso coragem em primeiro lugar, pois as estruturas hierárquicas continuam resistentes e, por melhor que venha a ser a intenção, se não houver ações concretas, tudo não passará de pura fantasia. Em segundo lugar, é preciso desvencilhar-se das próprias amarras do individualismo, egoísmo e interesses pessoais e passar a ter o desejo sincero de identificar e satisfazer as necessidades de seus comandados, conciliando tudo com objetivos e interesses saudáveis de acionistas ou cotistas das organizações.
Que esse “outro lado” da moeda chamada liderança seja uma realidade dentro de sua empresa e que, como lider, você jamais sofra um “xeque-mate”!
Autor: Carlos Alberto Zaffani - Consultor em Gestão de Empresas
Autor: Carlos Alberto Zaffani - Consultor em Gestão de Empresas