Todavia, apesar de reconhecer a
evolução, continuo com a impressão de
que temos um longo caminho a trilhar para encontrar a organização ideal sob a
óptica da relação capital e trabalho, aquela empresa onde suas práticas,
políticas, relações e ambiente transbordem características harmoniosas
suficientes para distinguí-la das demais e seja um referencial de exemplo
verdadeiro para servir como modelo de gestão.
Numa época em que a concorrência
torna-se cada vez mais acirrada e, muitas vezes destrutiva, onde a busca pelo
resultado a qualquer preço é a “bola da vez” e o pragmatismo irrestrito é
ressaltado por muitos como uma das boas características exigidas dos líderes,
falar sobre harmonia organizacional parece pieguice de quem não tem o que fazer
ou de quem é tão sonhador, que é incapaz de perceber que no século 21, é
impossível imaginar ou construir uma organização harmoniosa.
Será mesmo? Será que nos
habituamos aos modismos ou modelos de gestão que só incentivam a busca do lucro
a qualquer custo?
- CREDIBILIDADE
A credibilidade está para a
empresa assim como o bom caráter está para o ser humano.
O bom caráter de uma pessoa se
constrói ao longo dos anos, através de suas condutas e atitudes diante dos acontecimentos
da vida, enquanto que numa organização, a credibilidade é erguida através de
comportamentos éticos em todas as circunstâncias, da qualidade de seus
produtos, no atendimento especial aos clientes, no grau de maturidade exercido
nas relações com seus fornecedores, na maneira digna e humanizada como os
funcionários se tratam entre si e como são tratados pelos superiores, no
cumprimento pleno das obrigações legais, fiscais e trabalhistas, no respeito ao
meio ambiente e no tratamento dispensado às comunidades ao seu redor e
sociedade como um todo.
A credibilidade é um longo
processo de conquista constante que precisa ser alimentada no cotidiano pelas
práticas para o público externo e pelas atitudes e comportamentos dos sócios,
diretores, gerentes, chefias, funcionários e terceirizados. Não é possível
construir um contexto de credibilidade sem que haja consistência entre o
discurso (missão e valores) e as práticas do dia-a-dia.
Por mais difícil que seja, é
preciso haver coerência e consistência em tudo. Se assim não for, a
credibilidade – construída ao longo do tempo – se dissipará rapidamente diante
dos obstáculos e dificuldades que toda empresa vivencia em sua história.
- RESPEITO
Já dizia meu querido pai:
“respeito é bom e não custa nada”. De fato, enquanto a credibilidade constrói a
confiança, o respeito edifica a cooperação.
Relações construídas com base no
respeito viabilizam vias de mão dupla, ou seja, dificilmente a parte contrária
agirá com falta de respeito quando é tratada por ela com dignidade. Nas
relações internas, quando os funcionários percebem um ambiente de respeito em
todas as situações e entre os diferentes níveis hierárquicos, haverá
naturalmente uma nova atitude entre os colegas de trabalho, prevalecendo
comportamentos educados e sadios.
Entre os funcionários, o respeito
pode ser percebido pela forma como são tratados pelos superiores e pelo
ambiente que dispõem para que possam desenvolver suas atribuições com
eficiência, segurança e eficácia e, ao mesmo tempo, pela maneira como são
reconhecidos e valorizados.
Muito embora possa parecer que o
respeito possa estar presente somente nas relações entre as pessoas (diretores,
funcionários, clientes, fornecedores, etc), entendo que vai mais além, pois se
faz necessário no cumprimento às leis, na preocupação com a preservação
ambiental e no real interesse pela perspectiva de construção de uma sociedade
melhor.
- IMPARCIALIDADE
Ser imparcial talvez seja uma
virtude divina, razão pela qual parece que a parcialidade é uma característica inerente
ao ser humano.
Se assumirmos – como premissa –
que o ser humano é parcial por natureza, concordaremos que hoje em dia, talvez
essa seja uma das características menos observadas dentro das organizações, nem
tanto porque não queiram, mas principalmente pelas dificuldades de sua
aplicação em função de políticas mal concebidas ou em razão de estruturas cada
vez mais descentralizadas.
A imparcialidade se baseia na
inexistência do favoritismo. Por isso, a existência de políticas, normas e
regras objetivas e transparentes são essenciais para se criar uma atmosfera
positiva e saudável em todos os níveis hierárquicos e onde prevaleçam
tratamentos igualitários, independentemente de raça, cor, religião, orientação
sexual, bem como em relação a toda e qualquer questão que envolva diferentes
áreas de uma organização.
Desenvolver a imparcialidade numa
organização será sempre um grande desafio!
- CAMARADAGEM
A camaradagem é o complemento da
confiança construída através da credibilidade e da cooperação conquistada pelo
respeito. A busca pelo equilíbrio entre essas características fortalecerá a
camaradagem entre todos os membros de uma empresa.
É impossível imaginar um ambiente
onde predomine a camaradagem sem que haja transparência nas práticas
organizacionais. Assim, a construção de um ambiente com tais características
exige desprendimento em relação a certos comportamentos pessoais e impõe
posturas de proatividade em todas as circunstâncias.
As diferenças existentes nos
graus de exigências das pessoas pode ser o grande empecilho na construção de um
ambiente de camaradagem, pois para muitos tal atitude poderá transparecer – em
certas circunstâncias – negligência ou conivência com situações desfavoráveis
ou de tensão. Por isso, o companheiro perene da camaradagem será sempre o
equilíbrio emocional e a serenidade.
Enquanto o equilíbrio emocional
propicia a dosagem adequada na avaliação do fato ou circunstância desfavorável,
a serenidade auxilia para um direcionamento ou suporte positivo sem jamais
esquecer o espírito de camaradagem.
A camaradagem não guarda relação
direta com a amizade, pois independe dela. Para um amigo talvez seja fácil ser
camarada, entretanto para um colega de trabalho nem sempre o será. Assim, a
construção de um ambiente prevalente em espírito de camaradagem é um desafio
específico e diário para cada pessoa na organização.
- ORGULHO
O orgulho é um sentimento que
pode ter conotações distintas dependendo da situação ou de quem observa, pois
pode ser confundido com a prepotência. No campo organizacional, o orgulho deve
ser encarado como uma grande conquista: o
orgulho de fazer parte de um time vencedor, de um grande projeto terminado
dentro do prazo, de uma meta alcançada ou superada, de pertencer a um
departamento que se destaca naturalmente ou de uma empresa que é admirada pelo
mercado.
O orgulho
organizacional pode ser expresso como o conjunto de sentimentos que ultrapassam
os muros da empresa e transparecem em comportamentos e atitudes em quaisquer
lugares que os funcionários estiverem. É sempre gratificante encontrar um
funcionário que tem orgulho de fazer parte de sua organização, porque ele
transpira alegria e energia positiva quando fala dela.
Por tudo
isso, construir uma organização em que todos tenham orgulho de nela estar é
mais um desafio para os gestores, o que impõe – entre tantas outras qualidades
– um grau cada vez maior de responsabilidade social e cidadania.
Considerações finais
As cinco
características que abordamos não são as únicas e não garantirão o sucesso de
uma empresa. Todavia, a construção de ambientes que saibam combinar a
credibilidade, o respeito, a imparcialidade, a camaradagem e o orgulho será
decisiva para viabilizar uma organização reconhecida e admirada por todos.
Como
gestores do século 21, precisamos estar atentos para coisas tão simples mas tão
importantes para o futuro de nossas empresas. Pensem nisso!
Bom
trabalho e até breve!
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