segunda-feira, 9 de abril de 2018

Como manter o empregado motivado?

Iniciei minha vida profissional ainda menino (o que era muito comum há algumas décadas) e durante muitos anos atuei com vínculo empregatício em quatro organizações (uma nacional e três multinacionais). Após essas experiências e há quase duas décadas como Consultor em Gestão de Empresas, por mais incrível que pareça, ainda não consegui encontrar uma resposta absoluta, conclusiva e definitiva para a pergunta do título deste artigo.

Tenho certeza de que a maioria dos leitores e muitos especialistas irão discordar e, com maior ou menor abrangência, dirão que para manter os empregados motivados, basta oferecer uma combinação de: ambiente agradável, ótima remuneração, programas motivacionais e trabalho em equipe.

Será que isso é suficiente?

Acredito que não, pois se fosse, provavelmente não existiriam empregados desmotivados ou insatisfeitos nas melhores empresas para se trabalhar (fato que pode ser facilmente confirmado em qualquer pesquisa de clima) e, no sentido contrário, empregados motivados e satisfeitos trabalhando em ambientes ruins, sendo mal remunerados e sem nunca terem recebido qualquer tipo de treinamento e/ou participado de um programa motivacional.

Outrossim e apenas para reforçar essas considerações preliminares, há algum tempo (mas acho que continuam válidos), a Towers Watson divulgou os resultados de um estudo da força de trabalho global (Global Workforce Study – GWS) onde constatou-se:

·   Apenas 28% dos profissionais brasileiros sentem-se altamente engajados no trabalho; e

·   Do restante, 30% sentem-se desengajados, 26% sem suporte das empresas e 16% desvinculados de suas companhias.

Nota: O estudo foi baseado no conceito de “engajamento sustentável” o qual compreende:

·         engajamento (vínculo à empresa e vontade de dar o melhor de si);

·         suporte organizacional (que proporcione produtividade e alto desempenho); e

·         bem-estar (físico, emocional e interpessoal).

Adicionalmente, de acordo com o estudo, para os profissionais brasileiros, os três principais pontos de motivação para criar laços com a empresa são: desenvolvimento de carreira, imagem da empresa e metas e objetivos claros.

Esses resultados parecem evidenciar que se a empresa tiver uma ótima imagem, um bom programa de desenvolvimento de carreira e as metas e objetivos forem claros, todos os funcionários sentir-se-ão motivados e comprometidos. Será?

Mais uma vez, apesar de concordar que esses três fatores são essenciais para a criação e sedimentação de vínculos duradouros nas relações entre a empresa e seus funcionários, sinceramente não acredito que seja suficiente para manter seus profissionais motivados durante todo o tempo em que estão dedicados ao desempenho de suas atribuições e responsabilidades.

E por que acho isso?

- Simplesmente porque o ser humano, com raríssimas exceções, não consegue manter-se motivado todo tempo!

Inúmeros fatores do cotidiano interferem - entre outros - no estado físico, no emocional, no âmbito familiar e/ou afetivo de todas as pessoas e a interferência no grau de motivação de cada um é mera consequência. Isso é lógico, mas essa lógica parece não existir no mundo corporativo, pois todos querem encontrar uma resposta objetiva para manter os empregados motivados e essa objetividade não existe!

Não existe uma fórmula ou “pílula” capaz de gerar motivação simplesmente pelo desejo de querer que isso ocorra, assim como é improvável assegurar a motivação de todos os funcionários, mesmo com as melhores práticas de relações humanas, até porque não existe um “manual de instruções” com todas as regras preestabelecidas para alcançar tal resultado.

Então, diante de um contexto em que não encontramos uma “receita” abrangente e inteiramente convincente para manter os empregados motivados o que podemos fazer?

Particularmente, entendo que o melhor caminho para as empresas alcançarem os melhores níveis de motivação com seus funcionários está na combinação dos três fatores acima destacados: desenvolvimento de carreira, imagem da empresa e metas e objetivos claros, porém junto com o fortalecimento da compreensão individual sobre a importância da AUTOMOTIVAÇÃO.

Vivemos dentro de contextos extremamente conturbados, no qual observamos fatos ou  circunstâncias que  influenciam negativamente a vida das pessoas, tais como: a violência (especialmente para quem vive nas grandes cidades), o materialismo (no contexto de uma sociedade consumista, a posse de bens representa, para muitos, o poder), o desemprego (a falta de emprego é uma das principais causas do aumento da violência e leva para dentro das famílias, o medo e a falta de perspectiva em relação ao futuro), o consumismo  (jamais na história da humanidade, as pessoas sentiram tanto a necessidade de “comprar”  e  “consumir” -  até como forma de conquistar ou manter o status social), o individualismo / egoísmo (a massificação do consumismo e materialismo conduz o ser humano para uma postura mais individualista), a competição (pelas melhores escolas, empregos, notoriedade, sucesso, etc) e as desigualdades sociais  (riqueza concentrada nas mãos de poucos).

Como decorrência, observamos – dentro e fora das organizações - pessoas frustradas e/ou desmotivadas, muitas vezes com medo do desconhecido, do amanhã, do futuro, com pensamentos confusos, sentindo-se solitárias, sem fé, sem esperança e, muitas vezes, infelizes. A maioria das pessoas vive e enxerga o mundo, não percebendo que as melhores oportunidades estão no presente e no futuro e não no passado e, com isso, desperdiçam o que é realmente importante para a vida, criando mil e uma desculpas do tipo: Ah, se eu soubesse! Ah, se eu tivesse! Ah, se eu pudesse! Ah, se eu fosse! Ah, se eu conseguisse!

Por tudo isso, entendo que as empresas também precisam compreender que é fundamental o investimento no ensinamento de seus funcionários de que é possível manterem-se automotivados independentemente das circunstâncias, problemas e dificuldades do dia-a-dia.

Como experiência pessoal, escrevi um artigo a respeito há alguns anos e, embora possa não ser uma receita completa, acho que pode representar um início para que cada pessoa reflita e encontre o caminho de sua automotivação, pois observo que a maioria dessas dez características (posturas de vida) está presente nas pessoas vencedoras, que sabem viver a vida com alegria e adquiriram a compreensão de que a motivação começa a ser construída dentro de si mesmas:

1. Decisão e Coragem  -  Transformação requer a decisão pessoal em querer mudar e coragem para viver e enfrentar os problemas e circunstâncias do dia-a-dia com nova atitude.

2. Determinação  -  Jamais desanimar diante da primeira dificuldade ou derrota. Lembre-se que vitórias e derrotas fazem parte da vida de todo ser humano. Faça uma retrospectiva de sua vida e certamente constatará que muitas coisas poderiam ter sido diferentes se você tivesse tido mais determinação.

3. Dedicação  -  Empenhe-se obstinadamente nos seus objetivos e metas. A dedicação requer, em muitas ocasiões, grandes sacrifícios, porém para alcançar os melhores resultados, ela tem que estar presente.

4. Disciplina   -   É a capacidade de seguir um esquema, um método, uma regra pré-definida, lembrando-se de que disciplina não é rigidez. Ao seguir um esquema ou método, você estará evitando o desperdício de tempo, de energia e muitas vezes de dinheiro!

5. Persistência   -   É preciso ter convicção do que você quer e onde quer chegar, lembrando-se que uma grande conquista quase sempre requer muita persistência. O melhor resultado pode estar com aquele que for mais persistente!

6. Bom humor   -   É a melhor forma de reduzir a distância na comunicação entre as pessoas. Muito embora a sociedade pressione as pessoas para serem sérias, lembre-se que o excesso de seriedade pode limitar a criatividade.

7. Entusiasmo   -   É preciso colocar entusiasmo em tudo o que você fizer. Ao expressar entusiasmo em sua vida estará exteriorizando uma força capaz de energizar pessoas e ambientes.

8. Solidariedade   -  É uma manifestação de amor pelo ser humano. Estou certo de que ela nos aproxima ainda mais de Deus, pois nos ajuda a ter uma melhor compreensão do real sentido da vida. A solidariedade só é válida quanto é feita com o coração, sem esperar nada em troca.

9.     -   Parafraseando uma citação bíblica, “fé é acreditar nas coisas que se espera e a prova das coisas que não se veem”. Creio firmemente que quem tem fé não teme o desconhecido nem o futuro, sabe que as dificuldades e incertezas que a vida apresenta propiciam o crescimento interior e certamente trata com serenidade e sabedoria os fatos e circunstâncias do cotidiano.

A fé ajuda a edificar a firmeza de caráter das pessoas  e fortalece a certeza da perspectiva de  construção  de  um  mundo  melhor.  

10. Metas e objetivos   -   É preciso estabelecer metas e objetivos para a vida ter mais sentido e significado, não deixando-a parecer um barco sem velas que não sabe onde vai parar.  Não importa a idade que você tem, crie objetivos em todos os planos de sua vida: afetivo, familiar, profissional, perante a sociedade ou comunidade em que vive e, principalmente, no plano espiritual.


Considerações finais

Para finalizar, gostaria de chamar a atenção do prezado leitor para refletir e não esperar que sua motivação seja gerada pela empresa, mas sim que você é o principal responsável por ela e, principalmente, que os melhores momentos de sua vida serão vividos de maneira muito mais agradável quanto maior for o seu grau de automotivação.

Esteja certo de que estarei na torcida!

Até breve e bom trabalho!
Autor: Carlos A. Zaffani  -  Consultor em Gestão de empresas

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